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DICAS ANIMAIS

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

RAIVA OU HIDROFOBIA

É doença infecciosa de evolução aguda, causada por um vírus, quase sempre mortal, que se manifesta entre os animais por transtornos do conhecimento, aumento da excitabilidade nervosa e sintomas paralíticos. Transmite-se entre os animais, quase sempre a traves da mordedura ou contamina-ção de ferimentos por saliva de animais doentes do mal. O vírus está contido em alta concentração na saliva, e demais excreções e secreções dos animais acometidos da doença, além de também no sangue.


É enfermidade das mais antigas que se tem notícia, cuja causa permaneceu desconhecida, até que por volta do ano de 1882, portanto há mais de 100 anos, o químico francês LUIZ PASTEUR,já com 60 anos, começou a estuda-la, pois conforme deixou escrito em seus apontamentos científicos : "não conseguia esquecer-se dos gritos daquelas vítimas do lobo danado que passou pelas ruas de ARBOIS, sua terra natal, quando ainda menino, mordendo várias pessoas, que vieram a adoecer e morrer da doença"


São suscetíveis de contrai-la os animais mamíferos em geral, porém mais de 80% dos casos assinalados pela literatura médica são carnívoros, e em especial o cão doméstico. Interessante assinalar-se que o sintoma da fobia à água somente ocorre no homem quando acometido da moléstia, portanto o termo hidrofobia deve ser reservado exclusivamente ao homo sapiens.


Na Grécia antiga, ARISTÓTELES, já a descrevia como contagiosa , realçando o perigo das mordeduras de cães raivosos; Porém acreditava-se na possibilidade de seu aparecimento expontâneo, admitindo-se mesmo poder ser provocada por alimentos demasiadamente quentes, abstinência de água (sede), falta de satisfação sexual ou excitações nervosas intensas.


Foram os pesquisadores franceses, LUIZ PASTEUR, ROUX e CHAMBERLAIN, o primeiro químico, os dois seguintes médicos, auxiliados ainda pelo veterinário também francês THUILIER, que após exaustivas experiências, conseguiram o primeiro método eficiente para seu combate, através da vacinação pelos mesmos idealizada, e evidenciaram seu caracter infecto-contagioso, além de sua etiologia virótica, ou como dizia-se na época: causada por vírus filtravel, pelo fato dos organismos com essa denominação passarem a traves de velas especiais de porcelana utilizadas em trabalhos de Microbiologia, e denominadas Berkefeld, diferentemente das bactérias e fungos que são retidos por tais velas filtrantes.


A doença pode também acometer os animais herbívoros, como o boi, o cavalo, a ovelha, a cabra, sendo que nos ruminantes como os bovinos, os sintomas são predominantemente paralíticos, e o transmissor para esses ani-mais quase sempre é o morcego hematófago, da espécie Desmodus rotundus, no Brasil.


O morcego (hematófago) sugador de sangue, funciona também como reservatório do vírus, ou seja, contamina-se com o vírus porém sobrevive ao mal, passando então a funcionar como transmissor para outros animais que venha a sugar, devido ao fato de contaminar o ferimento que produz para aspirar sangue com sua saliva, que como já relatado tem alta concentração do vírus. Tal fato foi descrito na literatura médica pelo veterinário brasileiro SILVIO TORRES, que além de narrar o fato observado em sua terra, o Rio Grande do Sul, isolou também o vírus a partir da saliva coletada dos referidos morcegos. Tal fato, posteriormente, foi comprovado por outros pesquisadores, em outras partes do mundo, porém funcionando como veiculado da virose, outras espécies de morcegos hematófagos. Ultimamente vem sendo assinalados no Brasil, casos de morcegos não hematófagos que têm sido capturados em bosques urbanos, os quais examinados foi comprovado encontrarem-se contaminados pelo vírus Rábico. O mecanismo para contaminação destes morcegos não hematófagos deu causa a artigo que escrevi a respeito, e faz parte (em complemento) deste assunto, podendo ser lido neste mesmo site.


Têm os morcegos, o hábito de viverem em cavernas, sem-pre em bandos, pois são gregários; Para comunicarem-se entre si e para orientarem-se, pois são sabidamente quase cegos, emitem verdadeiros guinchos, e nesse ato por assim dizer cospem no ar no momento da emissão desses guinchos, e no caso de estarem contaminados pelo vírus rábico, impregnam o ar das cavernas onde vivem, com verdadeiro aerossol do vírus. Têm eles, também, o hábito de lamberem-se entre si, e com base nessa particularidade biológica, idealizou-se método para seu combate e extermínio.


Foi efetuado o seguinte experimento: Foram colocados em gaiolas teladas, a prova da entrada de morcegos, diversas espécies animais, tais como coiotes, chacais, cães e gatos, os quais foram instalados dentro de cavernas onde existiam morcegos contaminados pelo vírus rábico; Após 7 a 20 dias todos esses animais, sem haverem sido sugados por qualquer morcego, vieram a adoecer de raiva e em seguida perecer, e dos mesmos isolado o vírus rábico a través de provas microbiológicas. Baseado nessa experiência, que foi repetida em diversos países, aventou-se a hipótese da doença haver sido transmitida dos morcegos para os animais cobaias instalados nas cavernas, habitat dos morcegos, através do ar ambiente, ou melhor dizendo, a través do ar impregnado de vírus contaminado pela saliva de morcegos doentes.


Para extermínio dos morcegos em suas cavernas, com base no hábito que têm de lamberem-se entre si, usa-se com sucesso, o método de aprisionarem-se alguns morcegos dessa caverna que se pretende exterminar, os quais exemplares aprisionados têm seus corpos pincelados com o produto farmacêutico dicumarol - cuja propriedade tóxica-farmacológica é agir sobre a coagulação sangüínea, impedindo-a de se realizar, ou seja, provocam hemorragias. Tais exemplares assim preparados, sendo soltos e voltando para os bandos do qual provinham, sendo lambidos por seus parceiros virão estes a perecer por hemorragias provocadas pelo fármaco dicumarol.


A raiva quando declarada em um animal, assim como no homem não tem cura, culminando sempre com a morte, após período breve de evolução e sintomatologia que impressiona sobremaneira.


Para evitar-se a doença, ou seja, como medida profilática, a vaci-nação dos animais susceptíveis, principalmente de cães e gatos, é a medida básica; Porém, deve paralelamente ser efetuada a captura e isolamento de cães vadios, os quais por não terem donos, não têm quem providencie sua vacinação, sendo os cães sem dono comprovadamente os maiores responsáveis pela propagação da doença.


Para rebanhos bovinos, eqüinos, caprinos ou ovinos, criados onde existam morcegos hematófagos, sua vacinação com vacina apropriada para essas espécies animais, é a medida também principal para a profilaxia do mal, além do combate e extermínio das colônias de morcegos em suas cavernas.


No caso do homem, somente é indicada a vacinação como medida terapêutica, em caso do mesmo haver sido exposto à mordedura ou contacto com ani-mais suspeitos de raiva, ou tenha se contaminado acidentalmente, e nestes casos, a urgência da vacinação é de suma importância, assim como número de doses da vacina proporcional à gravidade do caso, o que o médico assistente deve julgar e prescrever, segundo o caso em si.


Países como a Austrália, Bélgica, Suíça, Inglaterra, Dinamarca, Sué-cia e a Noruega, praticamente conseguiram erradicar de seus territórios o mal, a traves de campanhas de vacinação em massa dos animais susceptíveis de se contaminarem. No Estado de S. Paulo, posteriormente a idênticas medidas profiláticas tomadas pelas autoridades governamentais, a Raiva vem sendo contida, e já há mais de 5 anos nenhum caso é assinalado no território paulista.


Fato interessante, é a raridade da doença em Constantinopla, na Turquia. Não se deve tal fato, como se acreditava antigamente, serem os cães turcos refratários à doença, mas sim, ao modo de vida e de se distribuírem por bairros desses cães; Não vagam pelas ruas como é comum em todo mundo, mas sim, vivem agrupados em certas ruas ou certas partes da cidade, onde vigiam com severidade sua zona de residência, e expulsam imedia-tamente todo cão estranho invasor.


O diagnóstico da doença é inicialmente feito pelos sintomas manifestados pelos animais que adoecem quando contaminados pelo vírus; Inicialmente apresentam esses animais alteração de seu comportamento, procurando locais escuros para se abrigarem, já que existe a chamada fotofobia, o que é sua causa determinante; Deixam de se alimentar e beber água e mesmo de atenderem ao chamado quando instados pelos donos. Com o evoluir da doença que é extremamente rápido, quando se trata de animais das espécies carnívoras, como cães, quase sempre ocorre em seguida a chamada fase prodrômica, em que esses animais fogem de casa passando a vagarem pelas ruas, quando então passam a ser perseguidos por outros cães vadios, os quais são mordidos pelo animal com raiva, que assim agem como meio de defesa, e a través dessa mordida contaminam novos cães de rua, dando continuidade a doença. Em seguida evolui a doença para a chamada fase paralítica, em que não podendo mais se locomoverem podem tanto morrerem atropelados por automóveis nas ruas, ou mesmo sucumbirem em decúbito pelo próprio evoluir da doença. Ocorrendo a chamada paralisia do maxilar, sintoma quase sempre presente, não conseguindo fecharem a boca passam a babar copiosamente, o que chama a atenção do observador atento sendo mesmo sintoma da raiva guardado na memória popular. O latido do cão com raiva torna-se característico, sendo emitido num duplo tom, e porisso chamados de bi-tonais, o que permite o diagnóstico da doença pelo simples ouvir desse latido. Quem teve oportunidade de ouvi-lo uma única vez não o esquecerá jamais. Como já mencionado, é a saliva o principal veículo de transmissão da doença, já que nela o vírus encontra-se concentrado, porém outras secreções como a urina, fezes e até o sangue são também contagiantes para outros animais ou pessoas.


O vírus rábico determina sempre nos animais em que se instala, uma inclusão cerebral denominada CORPÚSCULOS DE NEGRI, por haver sido descrita pelo pesquisador com esse nome, no ano de 1903. Tais inclusões citoplasmáticas, quase sempre encontradas no cérebro dos animais, e principalmente na região denominada Corno de Amon, situada na base do cérebro, são tidas como patognomônicas da doença, tal seja, só ocorrem quando o animal sucumbiu por Raiva e por nenhuma outra causa que não a Raiva. Para serem visualizados, é necessário ser o cérebro do animal fixado e corado por método específico, e observados seus cortes histológicos mediante técnica microscópica chamada de imersão (grande aumento). Ao lado, podem ser observados esses Corpúsculos de Negri, em cérebro de um cão que morreu da doença.


Animais herbívoros ou ruminantes, como o boi, a cabra, a ovelha e mesmo o cavalo, também podem morrer da doença, como qualquer animal mamífero, porém quase sempre se contaminam a través da mordedura por morcegos hematófagos portadores do vírus, e os sintomas que virão apresentar serão predominantemente paralíticos, não existindo a chamada fase prodrômica inicial dos carnívoros.


Existem vacinas anti-rábicas apropriadas para cada espécie animal, e das mais variadas técnicas de fabricação, desde a antiga vacina Pasteuriana, preparada pela dessecação de medulas de animais inoculados com o vírus, até as mais modernas obtidas por técnicas especiais, quando o vírus é cultivado em meios vivos, como ovos embrionados de galinha, neste caso denominadas vacinas avinizadas, e até em cultivos de células de rim de porco ou de hamster.


O vírus encontrado quando isolado de um animal doente, é denominado de vírus de rua, e é altamente infectante (virulento); Já aquele cultivado em laboratório, e inativado em sua patogenicidade e virulência, por sucessivas passagens em meios de cultura próprios, e por repiques diretos no meio em que é cultiva-do, é denominado vírus fixo. É este último o utilizado no preparo de vacinas, pelo fato de perder sua virulência e patogenicidade, conservando não obstan-te sua capacidade antigênica, qualidade esta última que é a visada na vacina, por ser a responsável pelo estímulo formador de anticorpos pelo organismo no qual for inoculada.

Dependentemente da técnica empregada no preparo dessa vacina anti-rábica, poderá a mesma dar imunidade por um ou dois anos, aos animais em que venha a ser inoculada. Existem vacinas para serem aplicadas em cães, assim como em gatos, bovinos ou eqüinos e outros animais suscetíveis, devendo por essa circunstância serem procuradas e selecionadas de acordo com a espécie animal a ser imunizada. Como advertência final devo frisar não ser a Raiva doença curavel quando já declarada, assim os meios profiláticos existentes de vacinação, são apenas preventivos e não curativos. Mesmo o homem quando mordido por um cão suspeito de estar com raiva, essa vacinação subsequente deve ser efetuada o mais rapidamente possível, a fim de possibilitar que o organismo humano fabrique sob o estímulo da vacina os anticorpos necessários a deterem a propagação do vírus em sentido ao cérebro, e antes que isto tenha tempo de ocorrer, já que essa propagação do vírus é em sentido centrípeto para o cérebro e lenta porque efetuada pelos nervos da região que se deu a mordida, ou foi lesada por esse traumatismo.

Fonte: http://www.saudeanimal.com.br

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